Aquela noite - Escrito por lico

Preciso de ajuda, por favor, ajuda. Depois daquela noite não serei mais o mesmo, nunca. Depois do ocorrido daquela noite, choro nos momentos menos propícios a lagrimas, tudo depois daquela noite.

Vocês conseguem imaginar o que aconteceu comigo? Não? Sim? Bom, talvez não tenha acontecido nada, talvez tenha sido só um sonho, mas um sonho tão real que faz com que eu duvide das minhas próprias palavras quando digo “talvez não tenha acontecido nada”. Sabe aquela sensação que temos de que algo vai acontecer? Eu tenho essa sensação todas as noites quando olho através da janela do meu quarto e vejo a lua “olhando” pra mim.
Naquela noite eu estava sozinho em casa, como em muitas outras. Porém naquela noite, por algum motivo especial, eu estava com medo, medo de algo que eu nem sabia o que era, então nem me perguntem. 
O dia daquela noite terrível foi normal, como qualquer outro. Acordei, fui pra faculdade, estudo medicina, quero ser um médico legista, bom, queria. Na sala que eu estudava haviam muitos alunos que faziam faculdade de medicina só por fazer, porque sabem que médicos não ganham tão mal assim. Mas eu tenho amor pelo meu manto, exceto quando chegava aquela professora vadia, Rose. Ela dava aulas de Psicologia Médica. Pra mim era um monte de merda saindo da boca de uma professora de merda. Além de não saber explicar a matéria, Rose era uma sapatão que dava encima de todas as alunas “na cara dura”. Rose usava um microfone e na sala de aula haviam várias caixas de som de onde a voz desta era amplificada, então imaginem uma professora de Psicologia Médica flertando com as alunas oferecendo nota em troca de… bom… vocês sabem. 
Deixando a professora vadia pra trás, o dia até que foi legal. De noite saí com uns amigos pra um bar, bebi além da conta e acabei sugerindo que fossemos brincar de verdade ou desafio em um cemitério próximo dali. Meus amigos, todos chapados também, aceitaram. Fomos então para o cemitério, denominado ”Vale do Descanso”. Ao entrar no Vale do Descanso, peguei uma garrafa que estava ali e sugeri que fosse usada como “seta” para o nosso jogo. Todos concordaram e começamos a brincadeira. Dali só saíram informações que é melhor ficarem mantidas em sigilo… Ainda no cemitério, estava bebendo uma garrafa de vodka no gargalo, eu não estava muito legal, estava vendo tudo turvo e quando percebi desmaiei. Era madrugada quando eu “acordei”, zonzo, com gosto de vômito na garganta e amarrado numa árvore. Sim, amarrado numa árvore. 
Foi nesse momento que o desespero começou, eu estava amarrado numa árvore muito grande, onde haviam vários corpos nus pendurados por cordas em seus galhos. Tinha muito sangue no chão. 
Tentava de todas as formas me desamarrar, mas era em vão. Alguns minutos após as minhas tentativas em vão de me desamarrar, vejo uma imagem turva vindo em minha direção, na verdade era quase como uma circunferência de uma pessoa, só que sem cor alguma. Foi nesse momento que eu comecei a gritar como uma menina desesperada, exclamando com toda a minha força “sai daqui!”, “me deixe em paz!” ou também “quem é você?”. Eu estava praticamente gritando sozinho, porque aquele cara sequer fazia um barulho de respiração. Foi quando, num piscar de olhos, ele sumiu e repentinamente apareceu do meu lado, com sua “boca” próxima ao meu ouvido, sussurrando: “Sou eu quem irá te matar.”. Naquele momento senti um calafrio que subia do meu dedão do pé, até o fio de cabelo mais ralo da minha cabeça. Só consegui pensar em gritar e pedir para aquele cara me soltar.
Lembro-me muito bem da época que eu era criança e que dizia que não tinha medo do escuro, que não tinha medo de monstros e que se visse um em algum dia da minha vida, eu iria matá-lo sem dó e nem um pouco de piedade. Mas agora passando por essa situação, no escuro e com um “monstro” me deixando amarrado à uma árvore cheia de pessoas mortas em seus galhos, eu não tenho toda essa coragem que dizia que teria. 
Eu rezei muito, pedi tanto que ele me soltasse que, de repente, ele me soltou e disse “Acho que você não é tudo aquilo que eu pensei que fosse. Se você conseguir correr o suficiente e sair do meu Vale em 3 minutos, eu não te mato, mas, se você não o fizer, você verá o que vai te acontecer.”. Eu corri, corri como se nunca mais fosse parar. Eu estava com tanto medo, que contei na minha cabeça 180 segundos, tempo limite para eu sair dali. Cai, me arranhei e torci o pé, mas nada me impediria de sair daquele local. Corria e olhava pra trás, para conferir se estava sozinho ou perseguido. Pulei a grade do Vale do Descanso e bati a cabeça no chão.
Novamente acordei zonzo e com gosto de vômito na garganta, numa cama de hospital, com o pé engessado e todo cheio de curativos. Nesse momento fiquei extremamente feliz e orgulhoso por ter conseguido sair do Vale do Descanso em menos de 180 segundos. Mas mesmo estando vivo, eu estava com uma sensação estranha, como se não tivesse acabado ou como se não tivesse ocorrido. Eu podia ter bebido um pouco além da conta e me machucado, talvez tenha sido isso.
Hoje faz uma semana que eu me machuquei no bar, estou totalmente recuperado dos ferimentos e sozinho em casa. Estou debaixo das minhas cobertas, com medo da vida, porque mesmo que aquilo tenha sido apenas um sonho, me perturbou muito.
Agora me pergunto se realmente vale a pena eu ficar aqui, com medo de tudo, com medo da vida, por causa de uma coisa que não aconteceu. Vou tomar banho e dar uma volta, espairecer um pouco me fará bem.
Esse banho foi muito relaxante, só preciso da minha toalha, eu tenho certeza que estava aqui. Cadê a minha toalh… Nossa… Que carta é essa?

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Avaliação do Médico Legista, Dr. Cornwey

Rodrigo Daffre Ventura estava com uma carta costurada em sua mão, com a seguinte mensagem:

“Oi, lembra de mim? Desculpa por ter feito você passar pelo que passou na semana passada, eu sei que foi horrível. Bom, lembra do nosso combinado? Se você conseguisse sair do Vale do Descanso em 3 minutos eu deixaria você viver e se não conseguisse você descobriria o que iria acontecer. Bom, você vai descobrir o que vai acontecer.”

Todos os órgãos internos de Daffre foram retirados e após esse processo, o assassino se preocupou em costurar todos os tecidos onde se localizavam os órgãos. As córneas de Daffre foram retiradas e introduzidas cirurgicamente, uma em cada palma da mão do mesmo.

Durante a autópsia pude perceber que o assassino era/é um cirurgião com conhecimento avançado em medicina, pois todo o procedimento foi realizado da forma que um cirurgião, da classe mais alta, realizaria.

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